segunda-feira, novembro 19

Minha mãe se matou sem dizer adeus





“A vida é ruim; eu sei. Mas ainda não vou cortar a teia da própria vida feito
 ela minha mãe: o vocábulo é minha âncora; aqui desta mesa-mirante observo
o anoitecer dos outros para esquecer-me do próprio crepúsculo.

É domingo. Chove choro. Tenho medo.”




Evandro afonso ferreira é um escritor do abismo. E nos relata com este livro a experiência extrema da proximidade da morte, medo, e  tristeza.

Com uma voz rouca e melancólica, o personagem descreve o mundo ao redor misturado a lembranças de sua mãe, louca, bêbada e suicida, que deixou a vida sem despedir-se. Sentado na mesa de um café, o tempo não passa, a tempestade que bate nas janelas prenuncia um dilúvio, e a morte aos poucos se aproxima. E apesar de reconhecer o quanto a vida é ruim, há o medo de morrer, do vazio, e por isso o personagem escreve, como maneira de segurar-se a este mundo. Somente o parco amor recebido de sua mãe e a amizade da amiga-filósofa formam uma magra luz neste universo cinza.

A capa com uma mancha de sangue reflete o quanto o autor está neste livro. Evandro mostra-se um desses escritores mais que sinceros, que fazem do papel um espelho da alma. A escrita é marcada pela repetição, e por neologismos como “perplexo-deslumbrado” ou “mãe-moleque”, que o autor cria na necessidade de recursos para descrever um universo tão pessoal.

“Minha mãe se matou sem dizer adeus” é o monólogo de um homem marcado pela decrepitude e tristeza existencial. Mais ainda, um homem que faz de seu discurso, o ultimo elo com a vida. “Às vezes penso que nasci apenas para escrever; não nasci para viver; escondo-me atrás das palavras”.

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